Qualidade de Vida na Cardiopatia Congénita
Abstract
Este estudo teve como objetivo avaliar a Qualidade de Vida (QV) em adolescentes e jovens adultos com Cardiopatia Congénita (CC). São investigadas a influência de variáveis sócio-demograficas, clínicas, de morbilidade psiquiátrica, ajustamento psicossocial, traços de personalidade e desempenho neurocognitivo (DN) sobre a QV dos participantes.
População e Métodos: Neste estudo participaram 335 participantes com Cardiopatias Congénitas da consulta de Cardiologia Pediátrica do Hospital de São João. Dos 335 participantes, 187 eram do sexo masculino e 148 do sexo feminino com idades compreendidas entre os 12 e os 30 anos (M = 16.36 e DP = 3.124). O grupo de controlo foi composto por 80 participantes saudáveis dos quais, 35 eram do sexo masculino e 45 do sexo feminino com uma média de idades (M = 16.76 e DP = 2.218).
Foi completada uma entrevista psiquiátrica estandardizada (SADS-L) e questionários de auto-relato sobre a qualidade de vida (WHOQOL-BREV) e traços de personalidade (NEO-FFI). Para aceder aos diferentes domínios do desempenho neurocognitivo foram usados os instrumentos: a. Memória de Dígitos (sentidos direto e inverso); b. Figura Complexa de Rey, cópia e reprodução passados 3 minutos; c. Trail Making Test versões A e B; d. Teste de Cores e Palavras; e. Pesquisa de Símbolos de Wechsler; f. Memória Lógica, e, g. Procura da chave da BADS. Informações sócio-demográficas e clínicas foram também recolhidas, bem como questionários para avaliar o ajustamento psicossocial na forma de auto-relato (YSR, ASR) e relato dos cuidadores (CBCL, ABCL).
Resultados: Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em todos os domínios da QV nos participantes em comparação com a população portuguesa, tendo os participantes melhores resultados no domínio geral, relações sociais e meio ambiente. Contudo, esta perceção é pior nas formas mais complexas de cardiopatia do que nas formas moderadas, em participantes cianóticos vs acianóticos, com lesões moderadas/graves vs lesões residuais/leves, em participantes submetidos a cirurgia vs não submetidos, em participantes com competência física limitada vs competência física satisfatória, nos grupos etários 19-26 vs 12-18 e nos que têm maior número de retenções. Verificamos uma prevalência de psicopatologia de 18.4% nos nossos participantes (24.1% nas mulheres e 13.9% nos homens) quando comparados com os da população em geral o que nos indica, que o grupo de doentes, está ligeiramente abaixo em termos de morbilidade psiquiátrica. Uma percentagem de 31.8% de retenções na escola (M = 9.61 e DP = 2.131).
Conclusões: Participantes com CC têm melhor QV geral em comparação com a população portuguesa em geral. Participantes com CC do género feminino evidenciam uma maior predisposição para psicopatologia. Foram determinados dois modelos preditivos da QV em participantes com CC.