Preditores do desempenho neurocognitivo em Adolescentes e Jovens Adultos com Cardiopatias Congénitas
Abstract
O principal objetivo desta investigação é estudar o desempenho neurocognitivo em adolescentes e jovens adultos com Cardiopatias Congénitas Cianóticas e Acianóticas. O estudo efetuado torna-se relevante na medida em que permitirá uma caraterização ao nível neurocognitivo de adolescentes e jovens adultos com CC, e assim compreender quais os preditores de um mau desempenho neurocognitivo. A pertinência da investigação é ainda reforçada pela identificação de diferentes fenótipos relativamente ao desempenho neurocognitivo.
Metodologia: A amostra é constituída por 415 pacientes de ambos os sexos e com idades compreendidas entre os 12 e os 30 anos de idade divididos em dois grupos. O grupo de doentes é composto por 335, dos quais apenas 217 dos pacientes estudados completaram a avaliação neuropsicológica, destes 82 têm CC cianótica e 135 CC acianótica. Este grupo está ainda dividido por três subgrupos de CC, designadamente, TGV (N=36), TF (N=71) e CIV (N=88). O grupo de controlo foi composto por 80 dos quais 35 são do sexo masculino e 45 do sexo feminino com idades compreendias entre os 12 e os 19. Foram recolhidos os dados clínicos mais relevantes e foi aplicado um conjunto de instrumentos num único momento temporal, constituído por uma entrevista semiestruturada, um questionário da personalidade (NEO-FFI), uma entrevista psiquiátrica estandardizada (SADS-L), questionários para avaliar o ajustamento psicossocial na forma de autorrelato (YSR, ASR) e relato dos cuidadores (CBCL, ABCL), e um questionário que avalia a qualidade de vida (WHOQOL-BREV). Foi também recolhida informação sobre os domínios cognitivos avaliados pelo Trail Making Test versões A e B, Memória Lógica, Memória de Dígitos (sentidos direto e inverso) e Pesquisa de Símbolos de Wechsler, procura da chave da BADS, Figura Complexa de Rey e o Teste de Cores e Palavras.
Resultados: Verificou-se que o grupo de controlo teve significativamente melhores resultados em todas as provas neuropsicológicas aplicadas e que a cardiopatias acianóticas apresentam melhores resultados nas provas do que a cardiopatias cianóticas. Encontrou-se correlações estatisticamente significativas entre o domínio cognitivo memory e os anos de escolaridade (p=0.031), entre o domínio cognitivo speed e a idade (p=0.014) e os anos de escolaridade (p=0.00), entre o domínio cognitivo attention e a idade (p=0.004), entre o domínio cognitivo executive e os anos de escolaridade (p=0.044) e o perímetro (p=0.016), e por último entre o domínio cognitivo visuoconstructive e os anos de escolaridade (p=0.006), o perímetro (p=0.026), o peso (p=0.051) e o comprimento (0.012). Podemos verificar que existem diferenças estatisticamente significativas entre o diagnóstico principal em relação aos domínios cognitivos memory (p=0.009) e speed (p=0.026). Foram identificados três fenótipos neurocognitivos nos pacientes com CC e verificou-se que os clusters 2 e 3 tem mais pacientes cianóticos. Verificou-se diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis, anos de escolaridade (p=0.037), comprimento (p=0.033), perímetro (p=0.019), nº de intervenções (p=0.004) e nº de reprovações (p=0.000) nos diferentes clusters. É verificado diferenças estatisticamente significativas em todos os domínios cognitivos quanto aos diferentes clusters. Podemos verificar que existem diferenças estatisticamente significativas entre o cluster 3 em relação aos outros em relação ao Ysr externalização e o Asr internalização. Em relação aos traços de personalidade encontrou-se diferenças significativas entre os clusters no neuroticismo (p=0.020), extroversão (p=0.001) e responsabilidade (p=0.045), sendo o cluster 3 o que apresenta maiores valores de neuroticismo e o cluster 1 de extroversão e responsabilidade. Em relação aos domínios da qualidade de vida e a morbilidade psiquiátrica não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas.
Conclusão: Ter uma cardiopatia cianótica, ter um pequeno perímetro ao nascimento e ter menos anos de escolaridade são os principais preditores de um pior desempenho neurocognitivo. O cluster 3, onde estão incluídos os participantes mais prejudicados a nível neurocognitivo são os pacientes com pior ajustamento psicossocial, pior qualidade de vida e os que têm os traços de personalidade mais desajustados