Avaliação do desempenho neurocognitivo em adolescentes e jovens adultos com cardiopatias congénitas
Abstract
O principal objetivo da presente investigação prende-se com a avaliação do desempenho neurocognitivo em adolescentes e jovens adultos com Cardiopatias Congénitas (CC) Cianóticas e Acianóticas. Este estudo torna-se pertinente na medida em que permitirá uma caraterização ao nível neurocognitivo de adolescentes e jovens adultos com CC, identificar diferentes fenótipos relativamente ao desempenho neurocognitivo, possibilitando uma comparação entre eles, assim como identificar quais os preditores de um mau desempenho neurocognitivo.
Procedimentos: A amostra é constituída por 459 participantes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 12 e os 30 anos, distribuídos por dois grupos: o grupo de controlo que inclui 80 participantes saudáveis (35 do sexo masculino e 45 do sexo feminino), e o grupo de doentes que inclui 379 participantes com CC (208 do sexo masculino e 171 feminino), destes indivíduos, 123 com CC Cianótica e 256 com CC Acianótica, dos quais apenas 247 completaram a avaliação neuropsicológica (130 do sexo masculino e 117 do sexo feminino). Foram recolhidas informações e num único momento temporal foi aplicado um protocolo de avaliação, com instrumentos de avaliação psicológica constituído por uma Entrevista Semiestruturada, um Questionário da Personalidade (NEO-FFI), um Questionário de Qualidade de vida (WHOQL -BREV), uma Entrevista Psiquiátrica Estandardizada (SADS-L), questionários para avaliar o ajustamento psicossocial na forma de autorrelato (YSR, ASR) e relato dos cuidadores (CBCL, ABCL). E instrumentos de avaliação neuropsicológica foram incluídos a prova Memória de Dígitos (sentido direto e inverso), Código, Figura Complexa de Rey, Procura da Chave, Stroop, Trail Making Test (versão A e B) e Memória Lógica (ML).
Resultados: Pacientes com CC em comparação com o grupo de controlo exibiram resultados significativamente inferiores em todas as provas neuropsicológicas aplicadas, evidenciando-se melhores resultados nas CC acianóticas analogamente às cianóticas. Parece também existir um elo de ligação entre o baixo desempenho neurocognitivo e o facto de os pacientes terem sido submetidos a intervenções cirúrgicas, apresentarem atividade física limitada, terem um percurso escolar insatisfatório, necessidade de terapia farmacológica, necessidade de cuidados intensivos e um estilo educacional protetor. As variáveis a idade, anos de escolaridade, perímetro cefálico, peso e comprimento apresentaram-se positivamente correlacionadas com os domínios cognitivos memória, velocidade de processamento, atenção, funcionamento executivo, capacidade visuoconstrutiva e funcionamento cognitivo global.
Identificamos três fenótipos neurocognitivos nos pacientes com CC e verificamos que os clusters 2 e 3, clusters com maior comprometimento, têm mais pacientes cianóticos. O cluster 3 é o que apresenta idades mais baixas, menos anos de escolaridade, menores valores nos parâmetros de desenvolvimento fetal e maior número de reprovações. Verificaram-se diferenças entre as variáveis: anos de escolaridade (p=.000), perímetro (p=.006), peso (p=.017), comprimento (p=.010), nº de intervenções cirúrgicas (p=.032) e nº de reprovações (p=0.000) nos diferentes clusters. Os resultados da análise univariada foram significativos para todos os domínios cognitivos nos três clusters (p<.001). Constataram-se diferenças estatisticamente significativas no cluster 3 comparativamente aos outros clusters em relação ao YSR externalização e o ASR internalização.
Foram encontrados dois preditores de um pior desempenho cognitivo em pacientes com CC, estes são o perímetro cefálico (β =,069; t = -2,465; p =.015) e ter uma CC cianótica (β =,222; t = -1,976; p =.050).
Conclusões: Pacientes com CC cianótica e baixo perímetro cefálico são os principais preditores de um pior desempenho neurocognitivo. O cluster 3, onde estão incluídos os participantes mais prejudicados a nível neurocognitivo, é o que apresenta idades mais baixas, menos anos de escolaridade, valores mais baixos nos parâmetros de desenvolvimento fetal e maior número de reprovações e os que parecem apresentar um pior ajustamento psicossocial.