Perfil dos agressores conjugais em contexto de reclusão
Abstract
Na literatura sobre violência conjugal estão identificados um conjunto de
fatores de risco presentes na história de vida e nas características de
personalidade de agressores conjugais. A presente investigação tem como
principal objetivo avaliar a incidência e prevalência de crenças legitimadoras da
violência doméstica, de dificuldades de regulação emocional e de esquemas mal
adaptativos precoces em 50 agressores conjugais em cumprimento de pena de
prisão em quatro estabelecimentos prisionais da região norte.
Os participantes deste estudo apresentam níveis elevados de crenças
legitimadoras de violência conjugal, dificuldades significativas no domínio da
regulação emocional e um conjunto de esquemas mal adaptativos precoces que
comprometem o seu funcionamento afetivocognitivo. Os esquemas mais
prevalentes parecem estar associados à depressão, ansiedade, hostilidade,
postura intolerante, pouco empática e de desconfiança do outro, dependência da
aprovação dos outros, originando possíveis sentimentos negativos e
desencadeadores de respostas agressivas relativamente à companheira. As
experiências de vitimação na infância e a prática do crime de homicidio não são
fatores diferenciadores relativamente às medidas analisadas, mas o consumo de
álcool poderá estar associado a uma intensificação das crenças legitimadoras da
violência. De salientar ainda que o acompanhamento clínico nas valências de
psicologia e psiquiatria não são aparentes fatores de mudança do funcionamento
do indivíduo.
Este estudo visa sublinhar a importância da implementação de
intervenções especializadas em contextos prisionais, focalizando a intervenção na
alteração das crenças legitimadoras da violência conjugal, na modulação do
funcionamento emocional e nas distorções cognitivas decorrentes de crenças
disfuncionais acerca de si e dos outros.