dc.description.abstract | Caracterizar a população de adolescentes e jovens adultos com
Cardiopatias Congénitas (CC) ao nível do ajustamento psicossocial e
morbilidade psiquiátrica.
Procedimento: Participaram neste estudo 266 doentes com CC, 148 do sexo
masculino e 118 do sexo feminino, com idades entre os 12 e os 30 anos (média
= 17,04 ±2,746). Foram recolhidos os dados clínicos mais relevantes e foi
aplicado um conjunto de instrumentos num único momento temporal,
constituído por uma entrevista semiestruturada, um questionário da
personalidade (NEO-FFI), uma entrevista psiquiátrica estandardizada, SADS-L
para traçar um diagnóstico clínico de perturbações psiquiátricas e questionários
para avaliar o ajustamento psicossocial na forma de auto-relato (YSR, ASR) e
relato dos cuidadores (CBCL, ABCL).
Resultados: Encontramos uma prevalência de 15.3% de psicopatologia nos
participantes do nosso estudo (18.5% nas mulheres). As doentes de género
feminino demonstraram maior tendência a apresentar isolamento (u=5705.500;
p=0.024), mais sentimentos de ansiedade e depressão (u=5845.00; p=0.08),
mais internalização (u=5140.500; p=0.001). Os doentes que foram submetidos
a intervenções cirúrgicas denotaram uma cotação mais alta na escala de
externalização (u=5193.500; p=0.050), e os que tiveram duas ou mais cirurgias,
por seu lado, apresentaram maior comportamento delinquente (u=2260.000;
p=0.003). Neste estudo, através das correlações entre o ajustamento
psicossocial e a personalidade, apurou-se que o traço Neuroticismo revelou
maior isolamento (rs 0.276; p 0.001), mais ansiedade/depressão (rs 0.214; p
0.011) e maior internalização (rs 0.275; p 0.001). o traço Extroversão denotou
mais ansiedade/depressão (rs 0.320; p <0.001), mais problemas de atenção (rs
0.263; p 0.002), de comportamento agressivo (rs 0.319; p <0.001) e
internalização (rs 0.250; p 0.003). Em relação ao traço Responsabilidade este
apresenta maior ansiedade/depressão (rs 0.236; p 0.005), alterações do
pensamento (rs 0.232; p 0.006) e comportamento agressivo (rs 0.276; p 0.001).
Em relação aos preditores de risco do ajustamento psicossocial (auto relato)
verificou-se que o traço de personalidade Amabilidade (p <0.001), ser do
género feminino (p 0.002) e ter competência física limitada (p 0.043) prediz pior
ajustamento psicossocial ao nível da internalização e a Idade (p 0.005) e
desempenho escolar insatisfatório (p 0.014) ao nível da externalização. Neste
estudo, verificamos que 107 doentes tinham reprovado pelo menos uma vez
durante o seu percurso escolar e que 130 não reprovaram nenhuma vez, sendo
a média de reprovações é de 1.52 (±0.78).
Conclusão: Ser do género feminino, doentes com internamentos e com mais
de duas cirurgias, ter uma personalidade com o traço Neuroticismo,
Extroversão e Responsabilidade apresenta pior ajustamento psicossocial. O
género feminino mostra-se mais propício para ter uma doença psiquiátrica.
Palavras-chave: Cardiopatias Congénitas; ajustamento psicossocial,
morbilidade psiquiátrica. | pt_PT |