Bacterial Mapping for Postmortem Interval Calculation
Resumo
A determinação do intervalo postmortem (PMI), o tempo decorrido desde a morte, é uma das questões mais complexas nas Ciência Forenses. Embora os fatores que influenciam a decomposição do corpo estejam bem estudados, o papel central das bactérias nas alterações postmortem só foi recentemente reconhecido. A maioria dos estudos centra-se na sequenciação extensiva de bactérias, mas os estudos de culturómica com maior resolução taxonómica continuam a ser escassos. O objetivo deste trabalho foi quantificar a carga bacteriana total e mapear três espécies chave (Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Escherichia coli) em diferentes órgãos e períodos postmortem. Ratos C57BL/6J SPF machos foram submetidos a três ensaios independentes durante 11 períodos de tempo, respeitando a regulação Europeia e Portuguesa para a colheita de órgãos e sacrifício animal a temperaturas controladas. Dez órgãos (intestino, estômago, músculo esquelético, fígado, baço, rim, bexiga, pulmões, cérebro e coração) foram colhidos, pesados e congelados instantaneamente em azoto líquido. Antes dos ensaios experimentais, foram analisadas amostras fecais, tendo-se confirmado a presença de E. faecalis e E. coli. As amostras foram homogeneizadas e ressuspensas em água peptonada tamponada, sendo inoculadas em meios de cultura enriquecidos não seletivos e seletivos (n=4). Após incubação aeróbica convencional, a quantificação da carga bacteriana total e individual foi efetuada através das Unidades Formadoras de Colónias (UFC) por grama de tecido ou por mL de amostra. As espécies foram identificadas por espetrometria de massa (MALDI-TOF) e a análise estatística efetuada no GraphPad Prism/10.0.1. Quarenta e quatro espécies bacterianas (13 famílias, 3 filos) foram identificadas, com uma consistência notável na presença de Staphylococcus xylosus, E. faecalis e E. coli nas três experiências. Foram identificadas de forma consistente famílias específicas em todos os órgãos, incluindo Enterococcaceae e Enterobacteriaceae, principalmente nas últimas fases de decomposição, e Bacillaceae, que resistiram frequentemente até ao último intervalo avaliado, enquanto Staphylococcaceae foi detetada de forma variável. A contaminação precoce e substancial observada no músculo esquelético, estômago e intestino, torna-os inadequados para cálculo do PMI. E. faecalis revelou-se um potencial biomarcador para a invasão dos rins, fígado e, possivelmente, do cérebro em períodos de tempo tardios, enquanto E. faecalis e E. coli na bexiga, bem como E. coli no baço e no coração, justificam uma investigação mais aprofundada. Embora reconhecendo as limitações de não considerar a complexidade da microbiota, este estudo piloto apresenta uma abordagem inovadora específica para a espécie, abrindo caminho para a identificação de biomarcadores facilmente rastreáveis em contextos postmortem reais.