Avaliação das Experiências Traumáticas Perinatais: A Perspectiva dos Acompanhantes e Validação do Questionário de Acontecimentos Perinatais
Abstract
A falta de instrumentos específicos para avaliar diretamente eventos perinatais potencialmente traumáticos motivou o desenvolvimento e validação de dois questionários, o questionário de acontecimentos perinatais (QAP) destinado a identificar eventos traumáticos ocorridos durante a conceção, gravidez, parto e pós-parto, e o questionário de avaliação dos cuidados sensíveis ao trauma (QCST) criado para avaliar a perceção dos cuidados prestados sensíveis ao trauma.
Uma amostra 110 participantes, composta por puérperas e os seus acompanhantes de parto, no contexto de unidades de saúde, consentiram participar através de protocolo com dados sociodemográficos, QAP, QCST e City Birth Trauma Scale para avaliação de sintomas de Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT). As características psicométricas dos instrumentos são analisadas.
Os resultados destacam como evento mais comum os "Procedimentos invasivos que causaram sofrimento à mãe" (41.8%), seguido de "Cesariana de emergência" (30.9%). Eventos raros como "Morte do bebé" ou "Morte da mãe", não foram relatados. As puérperas relataram maior exposição aos eventos traumáticos, enquanto o evento "Descoberta de problemas de saúde do bebé" teve o maior impacto na sintomatologia de PSPT (d = -1.36). O alfa de Cronbach para o QAP é de .53 para o QCST é de de .84. Não se revelam diferenças significativas entre os grupos quanto à exposição a eventos traumáticos. Há associações significativas (p <.05) entre o número de eventos traumáticos vividos e os níveis de PSPT, r=.36, e entre os cuidados sensíveis ao trauma e os sintomas de PSPT, r=-.24.
A baixa consistência interna do QAP é justificada pela baixa variabilidade e heterogeneidade dos eventos avaliados. Não obstante, considera-se importante manter itens de resposta rara, como a morte do bebé ou da mãe, devido ao seu impacto emocional significativo. A validade convergente do QAP verifica-se no seu efeito positivo sobre os sintomas de PSPT. Outros futuros estudos com amostras maiores permitirão análise fatorial, agrupando os itens em categorias temáticas. O QCST, por sua vez, mostrou-se um instrumento fiável para avaliar a qualidade dos cuidados perinatais sensíveis ao trauma, destacando a importância de intervenções adequadas para mitigar os efeitos emocionais de eventos traumáticos. The lack of specific instruments to directly assess potentially traumatic perinatal events motivated the development and validation of two questionnaires: the Perinatal Events Questionnaire (PEQ), designed to identify traumatic events occurring during conception, pregnancy, childbirth, and postpartum, and the Trauma-Sensitive Care Questionnaire (TSCQ), created to evaluate the perception of trauma-sensitive care provided.
A sample of 110 participants, composed of postpartum women and their birth companions, recruited in healthcare settings, consented to participate through a protocol including sociodemographic data, the PEQ, the TSCQ, and the City Birth Trauma Scale to assess symptoms of Post-Traumatic Stress Disorder (PTSD). The psychometric properties of the instruments were analyzed.
The results highlight "Invasive procedures that caused maternal distress" (41.8%) as the most common event, followed by "Emergency cesarean section" (30.9%). Rare events, such as "Baby's death" or "Mother's death," were not reported. Postpartum women reported greater exposure to traumatic events, while "Discovery of the baby's health problems" had the greatest impact on PTSD symptoms (d = -1.36). The Cronbach’s alpha was 0.53 for the PEQ and 0.84 for the TSCQ. No significant differences were found between the groups regarding exposure to traumatic events. Significant associations (p < .05) were identified between the number of traumatic events experienced and PTSD levels (r = .36), as well as between trauma-sensitive care and PTSD symptoms (r = -.24).
The low internal consistency of the PEQ is justified by the low variability and heterogeneity of the events assessed. Nonetheless, it is considered important to retain rare- response items, such as the baby's or mother's death, due to their significant emotional impact. The PEQ convergent validity is evident in its positive effect on PTSD symptoms. Future studies with larger samples will allow factorial analyses, grouping items into thematic categories. The TSCQ, in turn, proved to be a reliable instrument for assessing the quality of trauma-sensitive perinatal care, highlighting the importance of appropriate interventions to mitigate the emotional effects of traumatic events.