Estudo cefalométrico das vias aéreas superiores e das alturas dentoalveolares em pacientes com mordida aberta
Resumen
A mordida aberta representa um dos problemas mais difíceis de resolver
na prática ortodôntica diária. Esta maloclusão apresenta uma etiologia
multifactorial, sendo em muitos casos difícil elaborar um correcto diagnóstico e
desenvolver um tratamento estável no tempo.
Com a realização deste estudo pretende-se avaliar através de uma
análise cefalométrica as dimensões das vias aéreas superiores e das alturas
dentoalveolares, em pacientes com mordida aberta versus overbite normal.
Pretende-se ainda estudar a relação entre a largura das vias aéreas e falta de
overbite, com o intuito de diferenciar entre mordida aberta dentária (MAD) e
mordida aberta esquelética (MAE).
Para a realização deste trabalho foram recolhidas duas amostras a partir
de um ficheiro de pacientes ortodônticos: uma amostra controlo e uma amostra
de mordida aberta, sendo cada uma composta por 40 indivíduos. As amostras
foram seleccionadas de forma a limitar as diferenças relativamente ao sexo e à
idade dos indivíduos.
Recorrendo a telerradiografias laterais da face, foram avaliadas tanto as
dimensões das vias aéreas superiores como as alturas dentoalveolares em
ambas as amostras. Para tal foram utilizadas dezasseis medidas lineares, dois
valores angulares e um rácio, e os resultados foram submetidos a uma análise
estatística.
Na mordida aberta observou-se um estreitamento anteroposterior das
vias aéreas sobretudo na nasofaringe e orofaringe, um posicionamento mais
anteroinferior do osso hióide e um aumento nas dimensões verticais das vias
aéreas. Verificou-se ainda um aumento das alturas dentoalveolares maxilares e
mandibulares, bem como da altura facial anterior, o que reflecte o crescimento
vertical aumentado destes pacientes. A redução anteroposterior das vias aéreas nos pacientes com mordida
aberta, leva a uma adaptação muscular compensatória que provoca o avanço
do osso hióide, e o aumento das dimensões verticais das vias aéreas, para
melhorar a eficiência respiratória.
A MAE apresenta um overbite mais negativo e um crescimento facial
mais no sentido horário relativamente à MAD, e ainda uma redução mais
acentuada das vias aéreas no sentido anteroposterior.
Dentro da mordida aberta, a dentária apresenta maior adaptação
muscular reflectida por valores aumentados no deslocamento anteroinferior do
osso hióide e nas dimensões verticais das vias aéreas. Observou-se ainda um
aumento da altura facial posterior, o que permite a rotação anterior da
mandíbula. As alterações observadas na MAD, sugerem que as vias aéreas
manifestam uma tendência para mordida aberta, independentemente de existir
ou não um problema esquelético.
Verificou-se uma associação positiva entre a variável Val (comprimento
vertical das vias aéreas) a altura do primeiro molar superior, e ainda entre o
primeiro molar superior e a as alturas faciais.
A dimensão da variável Val e a posição do osso hióide permitem
determinar o potencial adaptativo que estes indivíduos apresentam, e desta
forma tornar mais previsível o resultado final do tratamento.