Efeitos da estimulação musical na dor do doente em cuidados intensivos: índices psicofisiológicos e comportamentais
Résumé
INTRODUÇÃO: O doente pós-cirúrgico apresenta frequentemente queixas dolorosas. A
tecnologia de ponta utilizada na monitorização, diagnóstico e tratamento destes doentes
enquanto internados em Cuidados Intensivos também desencadeia e a agrava a dor. Os
obstáculos causados por estes equipamentos, pela alteração do estado de consciência e pelo
comprometimento da comunicação verbal são algumas das razões da subavaliação e
subtratamento da dor nos doentes internados nestes contextos. A música tem sido uma das
técnicas de intervenção não farmacológica na dor cada vez mais utilizada e a estimulação
musical destes doentes poderá ser uma alternativa coadjuvante da terapia farmacológica, no
entanto, escassamente explorada no doente pós-cirúrgico internado em cuidados intensivos.
OBJECTIVOS: Estudar os efeitos da dor em variáveis comportamentais e fisiológicas, e
investigar os efeitos da estimulação musical na dor do doente pós-cirúrgico internado em
cuidados intensivos, recorrendo aos índices comportamentais e psicofisiológicos previamente
estudados.
MATERIAL E MÉTODOS: 107 doentes do HGSA foram aleatoriamente distribuídos por
um grupo experimental (GE; n=60) e um grupo controlo (GC; n=47) no momento da admissão
nos serviços de Cuidados Intensivos, pós-cirurgia. Os doentes do GE, ao contrário dos
participantes controlo, foram submetidos a duas sessões diárias de estimulação musical, com a
duração de 30-45min cada, durante dois a cinco dias, com vista a investigar o impacto dessa
estimulação na reacção individual à dor. Para avaliação da dor foram seleccionadas a BPS, a
EVS e índices psicofisiológicos (FC, PA e SpO2), recolhendo-se dados diários, com o doente
em repouso e nos momentos em que era submetido à estimulação dolorosa inerente a
procedimentos de rotina dos serviços.
RESULTADOS: A média das cotações da BPS e da EVS obtidas nos momentos de
estimulação dolorosa foram significativamente superiores quando comparada com os
momentos de repouso. De forma idêntica, a FC e a PA sistólica parecem ser sinais os
fisiológicos estudados mais sensíveis à estimulação dolorosa, podendo constituir-se como
Índices Psicofisiológicos da dor. No entanto, apesar do Índice de Melhoria Média dos sinais
fisiológicos e das medidas comportamentais obtidos junto do GE no dia da alta serem
melhores do os do GC, essa tendência não foi estatisticamente significativa para que se possaafirmar que a estimulação musical tem um efeito comprovado na reacção à dor nos
participantes estudados.
CONCLUSÃO: Apesar de não ter ficado estatisticamente sustentado o efeito da
estimulação musical na reacção à dor no doente pós-cirúrgico, há uma tendência que sugere
que esse efeito é positivo e, além disso, procedimentos de follow-up sugerem que a
estimulação musical favorece o grau de satisfação dos doentes quanto a vários aspectos do
internamento em CI, tornando claro que a música está significativamente associada a uma
maior satisfação dos doentes investigados. Dado que esta é uma técnica interventiva pouco
dispendiosa, de fácil aplicação e com efeitos potencialmente benéficos para estes doentes,
deve prosseguir-se com a investigação e insistir-se na sua utilidade, ainda que no âmbito de
cuidados intensivos.