A importância de novas técnica na avaliação da função ventricular esquerda em doentes com carcinoma da mama sob tratamento com transtuzunab
Resumen
O cancro da mama é uma das neoplasias mais frequentes em Portugal e cerca de 25 por cento (%) dos doentes com esta neoplasia apresentam sobrexpressão do recetor HER2 (Human Epidermal Growth Fator Recetor-type
2), associando-se a um fenótipo mais agressivo e a uma sobrevivência diminuída. O fármaco Herceptin® contém a substância ativa trastuzumab, um anticorpo monoclonal humanizado que é concebido para se ligar seletivamente ao domínio extracelular da proteína HER2, inibindo o crescimento das células tumorais HER2 positivas. Este fármaco pode ser usado no tratamento do cancro da mama quer numa fase precoce da doença, quer numa fase já mais avançada da mesma como no caso da metastização. A sua utilização tem levado a um importante aumento da sobrevida e qualidade de vida destes doentes. No entanto, apresenta, entre outras, uma importante reação adversa, a cardiotoxicidade, que poderá desencadear insuficiência cardíaca, especialmente quando estes doentes foram submetidos a terapia prévia com antraciclinas, pois estas provocam danos irreversíveis no tecido miocárdico. Torna-se, portanto, mandatória a avaliação seriada da função sistólica do ventrículo esquerdo nestes doentes com cancro da mama sob tratamento com trastuzumab. Esta avaliação é normalmente efetuada recorrendo à ecocardiografia bidimensional, através do cálculo da fração de ejeção pelo método de Simpson ou recorrendo a técnicas nucleares. As limitações da fração de ejeção como uma medida precisa da função sistólica do ventrículo esquerdo são bem conhecidas. Atualmente, dispomos de novas técnicas de imagem ecocardiográficas em bidimensional e tridimensional, como o Doppler tecidular (pulsado, cor, strain e strain rate) e speckle tracking (strain e strain
rate), que visam melhorar a capacidade de análise quantitativa da função cardíaca sisto-diastólica. Com a realização deste trabalho pretende-se, através de um estudo prospetivo, avaliar a precocidade das novas técnicas de imagem na deteção de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo em comparação com o método de quantificação convencional, num grupo de doentes com cancro da mama HER2 positivo.
Métodos: realização de ecocardiogramas seriados (n= 22) em 11 mulheres (50 ± 9 anos) com cancro da mama HER2 positivo e indicação para terapia com trastuzumab. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) foi avaliada através do ecocardiograma bidimensional e tridimensional (2D e 3D) e a deformação miocárdica (strain e strain rate) foi avaliada pelo speckle tracking (nos planos longitudinal e radial) e por uma técnica inovadora e muito recente o ecocardiograma 3D strain (nos planos longitudinal, radial e circunferencial). Os valores ecocardiográficos obtidos são comparados antes e após 3 meses sob tratamento com trastuzumab, através do Teste de T-Student para amostras emparelhadas.
Resultados: da amostra obteve-se um missing em todos os parâmetros avaliados à exceção da FEVE por ecocardiografia 2D e dois missings na avaliação 2D do strain radial, devido à existência de uma paciente com má janela apical e a duas com má janela paraesternal eixo curto. Não houveram mudanças significativas nos parâmetros avaliados durante os primeiros três meses de tratamento.
Conclusão: pode-se concluir que nos primeiros três meses de tratamento com trastuzumab nenhum dos parâmetros avaliados deteta alterações significativas na função ventricular.