Efeito da pressão da antibioterapia na selecção de estirpes bacterianas resistentes/multirresistentes
Resumen
Logo que a Penicilina começou a ser utilizada como terapêutica, na década de 40 apareceram as primeiras estirpes com resistência adquirida a este antibiótico e o mesmo veio a acontecer com outros antibióticos que foram entretanto desenvolvidos e dirigidos contra diferentes alvos bacterianos e com diferentes mecanismos de acção. As bactérias têm manifestado uma capacidade adaptativa notável, com rápida difusão de armamento genético em populações bacterianas expostas à pressão antibiótica. Embora o desenvolvimento de antibióticos com mecanismos de ação distintos permita ultrapassar resistências previamente seleccionadas, a utilização de múltiplos antibióticos sem uma planificação otimizada comporta o risco de conduzir à aquisição sequencial de genes de resistência por estirpes potencialmente patogénicas, com capacidade de ocasionar infeções virtualmente intratáveis.
Embora as interações sejam complexas, estudos epidemiológicos e ecológicos têm demonstrado, a associação do uso de antibióticos ao aparecimento de resistências, em especial em locais onde a utilização de antibióticos é efetuada de forma massiva como é o caso das Unidades Hospitalares. Para a resolução deste problema, foram criadas organizações, comissões, programas, que visam utilização de, essencialmente, duas medidas na prevenção da infeção por bactérias resistentes. Uma é a correta utilização dos antibióticos e a outra é a prevenção da aquisição e transmissão de bactérias resistentes.
A prevenção de infecções por bactérias resistentes pode ser monitorizada com recurso a estudos de perfis de susceptibilidade aos antibióticos, ecologia bacteriana e evolução de resistências. Os microorganismos resistentes, actualmente mais problemáticos em Portugal são os Staphylococcus aureus resistentes à meticilina, enterococos resistentes à vancomicina, Streptococcus pneumoniae resistentes à penicilina, enterobacteriáceas produtoras de beta-lactamases de espetro alargado ou de carbapenemases, Pseudomonas aerutginosa e Acinetobacter baumanii resistentes aos carbapenemos, sendo também de realçar o aumento de infecções por Clostridium difficile.
O conhecimento da antibioterapia prévia ao isolamento destas estirpes pode permitir fazer a monitorização da prescrição e toma de antibióticos e analisar uma eventual correlação entre a pressão exercida pela referida antibioterapia e a selecão destas resistências.
Mediante um estudo observacional retrospectivo pretendeu-se conhecer, na população de doentes do CHTS dos quais foram isoladas bactérias resistentes no período em estudo, a eventual antibioterapia prévia, em cada um desses doentes, com o objectivo de avaliar o possível efeito da pressão antibiótica no surgimento de infecções causadas por estas bactérias.