Acute poisoning in children and adolescents admitted to the Pediatric Emergency Unit of the Hospital de São João (Porto, Portugal), 2014-2018
Resumo
As intoxicações agudas ocupam o terceiro lugar como a principal causa de morte acidental na população infantojuvenil europeia e continuam a ser uma causa evitável de morbilidade e mortalidade, em todo o mundo. As características e tendências das intoxicações nas populações pediátricas são de inegável relevância, uma vez que o desenvolvimento de estratégias preventivas e educativas direcionadas exigem o conhecimento profundo da prevalência específica e tipo de intoxicações numa determinada região. Em Portugal, a epidemiologia das intoxicações em crianças até aos 18 anos não foi estudada de forma abrangente. Desta forma, pretendemos analisar o padrão das intoxicações pediátricas admitidas ao Serviço de Urgência Pediátrica de um hospital terciário localizado no Norte de Portugal, para melhor compreender a epidemiologia do problema na região.
Esta análise retrospetiva incluiu pacientes com menos de 18 anos, internados no Serviço de Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar de São João, Porto (Portugal), entre 2014 e 2018. Os dados relativos à idade, género e origem do paciente, ao agente tóxico envolvido e à intenção de intoxicação, à data e hora do internamento hospitalar, ao tratamento e ao resultado clínico, foram recolhidos dos registos médicos anonimizados dos pacientes.
Um total de 786 (0,20%) visitas por intoxicação, de um total de 389.913 admissões à urgência pediátrica, foram registadas durante o período de estudo. Através do estudo foi possível verificar que a principal via da administração do tóxico foi ingestão, e que a maioria das intoxicações ocorreram na faixa etária dos 13–18 anos. Da população estudada, 48,4% era do sexo masculino, não sendo também observadas diferenças significativas de género no padrão de intoxicação por diferentes agentes causais. As intoxicações por etanol (41,7%) e medicamentos (36,9%) lideraram as causas de intoxicação, seguidas dos produtos domésticos (9,2%) e drogas ilícitas (1,4%). A intoxicação por pesticidas representou menos de 1,0% dos casos. Enquanto 31,0% das intoxicações com produtos domésticos foram reportadas para crianças com idades até aos 2 anos, 63,0% das intoxicações com etanol ocorreram em adolescentes (13-18 anos). As intoxicações por fármacos também atingiram o seu pico nestas duas faixas etárias, relacionadas com a ingestão acidental exploratória de crianças e tentativas de suicídio, respetivamente. Os medicamentos mais comuns foram aqueles que atuavam no sistema nervoso central. Não foram reportadas vítimas mortais durante os cuidados de urgência, mas 1,1% dos pacientes foram hospitalizados com prognóstico desconhecido.
Os registos mostraram uma maior incidência do número de intoxicações à sexta-feira, sábado e domingo.
As medidas preventivas para limitar o abuso de etanol e de outras substâncias psicoativas ilícitas devem ser reforçadas entre os adolescentes, no Norte de Portugal. A sensibilização da comunidade para eliminar os riscos relacionados com a ingestão exploratória de medicamentos e produtos domésticos no ambiente doméstico deve ser também reforçada, uma vez que esta continua a ser uma das principais causas de intoxicação na população pediátrica da região. Devem ser realizados estudos adicionais a nível nacional, para melhor compreender a epidemiologia das intoxicações em crianças e adolescentes portugueses. Acute intoxications rank third as leading cause of accidental deaths in European infant-juvenile population and remain an avertable cause of morbidity and mortality worldwide. The characteristics and trends of intoxications among paediatric populations are of undeniable relevance as the development of targeted preventive and educational strategies demands throughout knowledge on the specific prevalence and type of intoxications in a particular region. In Portugal, the epidemiology of intoxications in children aged up to 18 years has not been comprehensively studied. Herein, we intended to analyse the pattern of the paediatric intoxications presented to the Paediatric Emergency Department of a tertiary hospital located in the North of Portugal, to better understand the epidemiology of this problem in the region.
This retrospective analysis included intoxicated patients under the age of 18, admitted in the Paediatrics Emergency Department of the Hospital Centre of São João, Porto (Portugal), between 2014 and 2018. Data regarding age, gender and origin of the patient, the toxic agent involved and the intent of intoxication, the date and time of the hospital admission, the treatment and clinical outcome were collected from the patients' anonymized medical records.
A total of 786 (0.20%) visits due to intoxication from a total of 389,913 paediatric urgent admissions were recorded, during the study period. Through the study it was possible to verify that the main route of poison administration was by ingestion, and that most poisonings occurred in the age group 13–18 years old. From the studied population, 48.4% were male, with no significant gender differences being also observed in the pattern of intoxication caused by different causal agents. Intoxication by ethanol (41.7%) and pharmaceuticals (36.9%) leaded the causes of intoxication, followed by household products (9.2%) and illicit drugs (1.4%). Intoxication by pesticides represented less than 1.0% of the cases. While 31.0% of intoxications with household products were reported for children aging up to 2, 63.0% of ethanol intoxications occurred in adolescents (13-18 years old). Intoxications with pharmaceuticals also peaked in these two age groups, related to toddler exploratory self-accidental ingestions and attempts of suicide, respectively. The most common pharmaceuticals were those acting on the central nervous system. No fatalities were reported during emergency care, but 1.1% of the patients were hospitalised with unknown prognostic. Records have shown that there is a higher incidence of the number of poisonings between Friday, Saturday and Sunday.
Preventive measures regarding abuse of ethanol and illegal drugs should be strengthened among adolescents, in the North of Portugal. Community awareness to eliminate risks related to toddler exploratory ingestions of pharmaceuticals and domestic products in the household environment should also be reinforced as this is still a major cause of intoxication in the region’s paediatric population. Additional studies should be conducted at the national level, to better understand the epidemiology of poisoning in Portuguese children and adolescents.