Distress emocional e neurocognição em pacientes infetados com VIH
Abstract
Introdução: Os dados sobre o funcionamento emocional e neurocognitivo em indivíduos infetados com o vírus da imunodeficiência humana (VIH), são ainda limitados principalmente em países em via de desenvolvimento, tal como Angola. A correta caracterização desse funcionamento poderá facilitar o reconhecimento das dificuldades e das necessidades de intervenção nessa população.
Objetivos: Tendo em conta a importância dos aspetos psicossociais no quadro da infeção pelo VIH, o presente estudo tem como objetivos: determinar a prevalência de distress emocional, de ansiedade e depressão clinicamente significativos, assim como de disfunção neurocognitiva em pacientes seropositivos. Paralelamente, pretende-se determinar a relação entre variáveis sociodemográficas e clínicas e os aspetos do humor e do funcionamento neurocognitivo.
Materiais e métodos: A amostra é composta por 204 pacientes adultos, VIH+, sem SIDA, de ambos os géneros e utentes no Centro Elavoco. Todos os participantes foram avaliados com o Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS) e o Mini Mental State Examination (MMSE).
Resultados: 62,7% dos participantes apresentaram níveis clinicamente significativos de distress emocional e 62,7% e 53,2% apresentaram níveis clinicamente significativos de ansiedade e de depressão, respetivamente. 58,3% dos participantes apresentam alteração no funcionamento neurocognitivo global. Níveis clinicamente significativos de distress emocional, estão relacionados com o nível de escolaridade, sexo, acesso diário a comida e água potável e o salário mensal; a ansiedade está relacionada com sexo, acesso diário e salário mensal; pacientes com sintomas clínicos de depressão são mais velhos, têm menos anos de escolaridade, não têm acesso diário a comida, são mulheres e recebem mensalmente um salário inferior aos dos indivíduos sem sintomas de depressão. O funcionamento neurocognitivo correlaciona-se com a idade, escolaridade, tempo de infeção e sintomatologia depressiva.
Conclusões: Os resultados obtidos, apontam para um nível de distress emocional clinicamente significativo consideravelmente alto, quando comparado com dados relatados em estudos realizados em outros países Africanos. O mesmo se verifica relativamente à disfunção neurocognitiva. As particularidades da amostra e do período de recolha, poderão estar na base destas diferenças. A associação dos aspetos emocionais e de funcionamento neurocognitivo, sobretudo, a variáveis sociodemográficas e de condições de vida, apontam focos de intervenção psicológica e social nesta população.