Simulação na Neuropsicologia Forense: exploração de um método de detecção
Resumo
“Background”: No processo de avaliação neuropsicológica dos défices cognitivos, uma das
dificuldades com que se depara o neuropsicólogo é a simulação. Uma das hipóteses de
detecção de simulação, reside na avaliação dos padrões de resposta apresentados nas provas
neuropsicológicas, tendo sido desenvolvidos estudos em provas como o Wisconsin Card
Sorting Test (WCST), ou o Trail Making Test (TMT), com elevados níveis de sensibilidade.
Método: Amostra constituída por 56 sujeitos, diagnosticados com traumatismo crânioencefálico,
que realizaram avaliação neuropsicológica forense, numa situação em que podem
auferir recompensa monetária por incapacidade. Os instrumentos utilizados foram o WCST,
TMT, o Brief Symptom Inventory (BSI), e a grelha de análise dos autos do processo. Tendo
como base os valores de referência de detecção de indicadores de simulação de Suhr e Boyer
(1999), para o WCST, e de Egeland e Langfjaeran (2007), para o TMT, e os critérios de Slick
et. al (1999) para diagnóstico de simuladores, procedeu-se à combinação de indicadores
derivados destes instrumentos de modo a criar dois grupos: um grupo de prováveis
simuladores e um grupo de prováveis não simuladores. Foi de seguida realizada comparação
entre os grupos ao nível da sintomatologia psicológica, dados de auto-relato, e dados sóciodemográficos.
Resultados: Cerca de 30% da amostra enquadra-se no grupo de prováveis simuladores. Não
foram encontradas diferenças significativas a nível sócio-demográfico, nem ao nível dos
dados de auto-relato, entre os dois grupos. Não existem diferenças significativas ao nível da
sintomatologia psicológica, para além da dimensão somatização, apresentando o grupo de
prováveis simuladores menores índices. Estes valores de somatização, para este grupo,
encontram-se inseridos nos esperados nos valores normativos, enquanto que no grupo de
prováveis não simuladores, a somatização, encontra-se significativamente superior aos valores
normativos. Com esta excepção, pelos resultados, verificamos uma grande homogeneidade
entre os dois grupos.
Conclusão: Destaca-se a significativa percentagem de prováveis simuladores na avaliação
neuropsicológica forense, que revela a necessidade de aplicação, e desenvolvimento, de
métodos eficazes da sua detecção. Este processo de detecção deve ser rigoroso, visto que,
pelos resultados obtidos, os grupos apresentam grande homogeneidade, sendo a somatização a
única dimensão que os distingue, sendo menor no grupo de prováveis simuladores. Mais
estudos serão necessários na avaliação das contingências deste resultado. Estes estudos
deverão focar-se na análise das discrepâncias entre dano real e o dano evidenciado, e sua
relação com a sintomatologia psicológica.