Estudo longitudinal da interrupção médica da gravidez: consequências psicológicas a longo prazo
Abstract
Background: As dificuldades adaptativas resultantes da interrupção médica da gravidez por
causa fetal (IMG) têm merecido exponencial destaque, no âmbito da psicologia clínica e do
aconselhamento genético. Áreas que caracterizam a IMG como um acontecimento com sérias
repercussões na saúde mental das mulheres, nomeadamente ao nível da depressão, luto e
trauma.
Metodologia: Amostra constituída por 34 mulheres que vivenciaram IMG há sete anos atrás.
As participantes foram avaliadas 15 dias, 6 meses, e 7 anos após IMG. Procurou-se explorar e
avaliar como a mulher é afectada psicologicamente pela IMG ao longo do tempo. Na
operacionalização deste objectivo utilizaram-se os seguintes instrumentos: o Inventário de
Depressão de Beck (BDI), a Escala de Luto Perinatal (PGS), a Escala de Impacto de Eventos
Traumáticos – Revista (IES-R) e um questionário de dados individuais. A investigação
agregou, ainda, outras informações provenientes das avaliações precedentes, nomeadamente
dados sócio-demográficos, factores contextuais, suporte social, processos de coping e
conflito na decisão. A partir dos dados recolhidos foram calculadas as diferenças ao nível da
sintomatologia depressiva, do luto perinatal e do trauma, nos três momentos. Por fim,
procurou-se obter um modelo parcimonioso que permitisse predizer a depressão, o luto perinatal
e o trauma em função de um conjunto variáveis independentes, 7 anos após a IMG.
Resultados: Constatou-se uma diminuição da sintomatologia psicopatológica na maioria
das participantes ao longo das três fases avaliativas. No entanto, corroboramos, de acordo
com a literatura, que a IMG é um evento particular que mantém associados elevados níveis
de morbilidade psicológica num número substancial de mulheres. Foram encontrados
maiores índices de depressão até aos 6 meses, mantendo-se esta estável até aos 7 anos após
a IMG. No que concerne ao luto perinatal encontramos uma diminuição significativa entre
os 6 meses e os 7 anos. Verificamos, ainda, que esta população, após 7 anos, evidencia
elevados índices de sintomatologia traumática. O estilo de coping de evitamento foi
identificado como factor preditor de psicopatologia ao nível da depressão e trauma, a longo
prazo.
Conclusão: Após IMG evidenciam-se níveis de morbilidade psicológica num número
substancial de mulheres ao nível da depressão, do luto e do trauma, pelo menos, durante os
7 anos que se seguem. O estilo de coping de evitamento surge como preditor de
sintomatologia de trauma e depressão a longo prazo. Neste seguimento, destaca-se a
necessidade de estudos com enfoque sobre outros factores que possam ser significativos em
termos das repercussões psicológicas e variáveis preditoras de psicopatologia consequente
da vivência da IMG.