Importância do diagnóstico microbiológico na terapia da doença periodontal
Abstract
A Medicina Dentária na sua função de prevenção, tratamento e estética depara-se com a transposição do obstáculo conhecido como doença periodontal.
O objectivo deste estudo é contribuir para o esclarecimento da origem desta doença através da pesquisa micro biológica e dos seus agentes etiológicos.
O seu tratamento que entre outros parâmetros inclui a placa bacteriana, ou biofilme foi motivo de interesse da Medicina Dentaria desde há mais de um século, tendo surgido consequentemente a hipótese da placa bacteriana não específica, que se entendia ter o envolvimento de um conjunto de bactérias, hipótese esta que foi modificada paulatinamente através do tempo com o lançamento da hipótese específica, baseada no envolvimento de um conjunto de espécies bacterianas com características bem definidas.
Os avanços actuais, na metodologia de isolamento e identificação, assim como na determinação da virulência destas bactérias, têm permitido elucidar com clareza a importância e o papel que elas tem na patologia da doença. Porém, há ainda muitos estudos a serem explorados relativamente ligados às espécies classicamente identificadas e com importância pelo seu valor patogénico.
O propósito deste trabalho foi:
a) Avaliar a presença de bactérias periodontopáticas nos diferentes tipos de periodontite..
b) Determinar a concentração mínima inibitória utilizando o método Épsilon teste.
Nesta perspectiva, foi realizado um estudo clínico-microbiológico de indivíduos com diagnóstico de periodontite, seguidos numa clínica privada.
O estudo compreendeu 15 amostras provenientes de 15 indivíduos nos quais foram avaliados os seguintes parâmetros clínicos: sangramento, índice de placa bacteriana, profundidade de sondagem, recessão gengival, nível de inserção clínica, mobilidade e realização de radiografias pela técnica do cone longo. A partir destes dados foi efectuada a classificação do tipo de periodontite baseada na descrição feita por Armitage3.
As colheitas foram realizadas como preconizam diversos autores, isto é, introduzindo diversas pontas de papel em cada local de lesão periodontal. A identificação de bactérias responsáveis pela infecção foi realizada através dos métodos convencionais de cultura, propondo-se também realizar testes de susceptibilidade das bactérias isoladas, frente aos antibióticos através da determinação da concentração mínima inibitória (CMI).
O estudo bacteriológico compreendeu a observação microscópica directa da amostra utilizando dois métodos de coloração, Gram e a visualização de espiroquetas (Treponema spp) foi feita através da coloração de Vagô.
Com o intuito de contribuir na orientação do tratamento, foi estudada a susceptibilidade das bactérias patogénicas isoladas, utilizando o método de Concentração Mínima Inibitória (CMI). O critério da selecção de antibióticos baseou-se nos hábitos terapêuticos mais comummente recomendados. Assim incluiu-se, a amoxicilina, a amoxicilina mais o ácido clavulânico, o metronidazol, a tetraciclina e a ciprofloxacina. Os resultados revelaram que havia associações complexas de bactérias nos casos estudados. Encontrou-se a presença de Aa. em 5 casos estudados e quatro destes corresponderam a formas de periodontite generalizada agressiva. Notou-se a presença de Campylobacter sputorum em 6 casos de periodontite generalizada crónica, associados a bactérias periodontopáticas, particularmente a Prevotella intermédia e a Porphyromona gingivalis.
No que concerne à susceptibilidade bacteriana encontrada frente aos antibióticos é de realçar a multiresistência das espécies Pi, Campylobacter sputorum e também Capnocitophaga spp. Despertou-nos também a atenção a resistência dessas espécies à ciprofloxacina e ao metronidazol em associação. As bactérias periodontopáticas encontradas, reunidas em complexos bacterianos indicam formação de placa bacteriana em estado de Biofilme e foram compatíveis com os tipos de periodontite diagnosticados.
A maior parte de cepas bacterianas periodontopaticas testadas, foram sensíveis aos antibióticos usados frequentemente no tratamento periodontal. No entanto, foram detectadas espécies com forte tendência à resistência, tais como Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Campylobacter spp., e Capnocytophaga.