(DES)AFECTOS: o impacto da violência conjugal no funcionamento psicológico das vítimas
Abstract
Nos anos 90 em Portugal, a violência contra as mulheres nas relações conjugais
assume uma área de estudo relevante, chamando a atenção de investigadores e instituições
para uma realidade ainda hoje escondida.
A visibilidade crescente da violência doméstica tem vindo a demonstrar a sua
associação a um importante conjunto de repercussões psicológicas nas vítimas. É um
problema de saúde pública que ultrapassa barreiras socioeconómicas, raciais, culturais ou
geográficas (Garcia-Moreno, Jansen, Ellberg, Heise & Watts, 2006 in Blanchard, 2007).
A revisão da literatura efectuada sobre a violência doméstica, permitiu confirmar que
estamos na presença de um fenómeno complexo, onde interferem muitos factores. Não sendo
possível estudar todas as suas dimensões, direccionamos o nosso trabalho para a violência que
ocorre estritamente na relação de conjugal e o seu impacto na mulher vítima. Segundo um
estudo das Nações Unidas (2006) sobre todas as formas de violência contra a mulher, esta é a
forma mais comum de violência experimentada pelas mulheres em todo o mundo.
Neste sentido, o presente estudo constitui uma reflexão sobre os conceitos de violência
doméstica e conjugal, contribuindo para uma melhor caracterização deste fenómeno e para
uma compreensão mais clara da relação entre a violência sofrida, e a saúde ou bem-estar da
«mulher batida». Num plano empírico procurou-se avaliar o impacto dos abusos sofridos no
funcionamento psicológico e nas dimensões da vida das vítimas. Foram administrados a 52
mulheres vítimas de violência conjugal, sinalizadas por instituições da região norte do país, o
Questionário de Violência Doméstica (Quintas, Serra, Oliveira, Alves e Pacheco, 2008), o
Brief Symptom Inventory (BSI) – (Derogatis, 1982 versão portuguesa Canavarro, 1999) e o
Questionário de Resposta Emocional à Violência Doméstica e Sexual (REV) – (Soler, Barreto
e González, 2005; versão experimental de Quintas, Serra, Oliveira, Alves e Pacheco, 2008).
Os resultados encontrados sugerem a presença de múltipla vitimação na maioria da
amostra estudada e a existência de sintomatologia diferenciada face à natureza das práticas de
violência sofrida e da severidade da mesma, nomeadamente sintomas de PTSD, alterações no
ajustamento psicossocial, ideação paranóide, somatização, depressão e ansiedade,
comparativamente com os dados normativos.