Alexitimia, dor e psicopatologia em doentes com enfarte agudo do miocárdio
Abstract
Em Portugal, à semelhança da generalidade dos paises industrializados, as doenças
cardiovasculares são cada vez mais um problema major de Saúde Pública, não somente
pela morbilidade e pelos altos custos socios-económicos que comportam, mas também pela
sua elevada prevalência, sendo reponsáveis por importantes déficits funcionais que se
manifestam a nível fisico e psicossocial.
O estudo do papel das emoções na saúde e na doença tem sido referida em diversos
estudos, donde subjacem a importância dos factores emocionais, nomeadamente da
psicopatologia e de uma forma de não expressão emocional (a alexitimia), que se
caracteriza por uma reconhecida dificuldade em identificar e expressar emoções e num
estilo de pensamento orientado para acontecimentos externos e que se reconhece estar
amplamente associada à ansiedade e depressão, podem influenciar no diagnóstico, no
prognóstico e no percurso terapêutico dos doentes com EAM. Partindo desta assumpção o
objectivo deste estudo foi investigar a alexitimia e os sintomas psicopatológicos entre
doentes com EAM e a sua relação com as dimensões sensorial, afectiva e avaliativa
decorrente da dor isquémica. Abordamos sequencialmente 30 doentes através do recurso
ao perfil bioquímico e/ou evidência de alterações electrocardiográficas compativeis com
um quadro de EAM numa unidade de cuidados intermédios de referência a nível nacional,
com uma média de idades de 65.23 11.95 anos - 80% do sexo masculino e 20% do sexo
feminino; e um grupo de controlo constituído por 41 individuos com uma média de idades
de 42.85 7.83 – 46.3% do sexo masculino e 53.7% do sexo feminino; todos os doentes
foram caracterizados sócio-demograficamente — (idade, género, situação conjugal, nível
de escolaridade, situação sócio-profissional); e medicamente — em termos de diagnóstico
e terapêutica em curso, pela Escala de Alexitimia de Toronto de 20 items (Bagby et al.,
1994; Prazeres, Parker & Taylor, 1994), pelo Questionário de dor de McGill (Melzack,
1987; Correia et al., 2006), pelo Symptom Check List – 90 Revised (Derogatis, 1977;
Baptista, 1993) e ainda pela Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (Zigmond &Snaith, 1983; Pais-Ribeiro et al., 2007). Procedemos a análises comparativas e de
associação entre as variáveis.
Os principais resultados indicam que os doentes com EAM apresentam valores de
alexitimia significativamente mais elevados do que o grupo de controlo, assim como níveis
superiores de sintomas psicopatológicos, nomeadamente níveis mais elevados de
somatização e depressão. Também constatamos que a alexitimia é uma condição mais
prevalente nos doentes com EAM. As análises de relação mostraram que existe uma
correlação positiva entre os sintomas psicopatológicos e a alexitimia, esencialmente devido
às dimensões da somatização e da depressão. Os resultados deste estudo também
confirmaram que para esta população a psicopatologia também aparece relacionada com as
dimensões sensorial, afectiva e avaliativa da dor.
Em conclusão podemos dizer que se verificou uma prevalência significativa de alexitimia
entre os doentes com EAM e que os resultados favorecem a hipótese de que a
psicopatologia relaciona-se com a experiência de dor assim como com a alexitimia. Neste
contexto de elevada emocionalidade com défice de expressão das suas emoções os
resultados sugerem uma necessidade de intervenção ao nível da expressão dos estados
emocionais dos doentes cardíacos com o intuito de diminuir os seus níveis de
psicopatologia e melhorar o seu prognóstico.