Maus tratos na terceira idade: percepções dos idosos, população e profissionais de saúde
Abstract
O aumento do número de idosos levanta inúmeros desafios à sociedade contemporânea e novos problemas sociais, dos quais os maus-tratos são apenas um de muitos que, entre nós, parece ainda não ter sido reconhecido como tal (Ferreira-Alves, 2005). Desta forma, estabelecemos como principais objectivos deste estudo a identificação e comparação das percepções dos idosos (PI), da população em geral (PG) e dos profissionais de saúde (PS) acerca dos maus-tratos a idosos. Para tal, a amostra é constituída por 90 participantes, 30 por cada grupo. A média das idades no PI é de 70,93 anos (DP=5,017), no PG de 49,04 anos (DP=12,456), e no PS a média é de 35,50 anos (DP=11,887). Predomina o género feminino nos três grupos (PI-76,7%; PG-56,7; PS-60%).
Foi realizado um estudo exploratório descritivo, segundo uma abordagem qualitativa cujas respostas de evocação livre categorizadas e quantitativa, com recurso ao programa SPSS v17.0. Assim, para a recolha de dados foi utilizado como instrumento uma entrevista semi-estruturada com questões abertas e fechadas.
Os resultados obtidos revelam que todos os grupos já ouviram falar de maus-tratos a idosos através da comunicação social. Consideram que a maioria das situações de maus-tratos ocorre no domicílio (PI-56,7%; PG-83,3%; PS-93,3%), perpetrada por familiares (PI-50%; PG-83,3%; PS-93,3%). Divergem nas tipologias de maus-tratos mais frequentes, uma vez que a PI releva a negligência/abandono (63,3%), a PG os maus-tratos psicológicos (83,3%) e o PS a agressão física (96,7%). Todos os grupos consideram como sinais / indicadores mais evidentes os psicológicos / emocionais (PI-76,7%, PG-86,7%, PS-90%). Quanto à prevenção, a PI (36,7%) considera que é necessária maior assistência e apoio, enquanto o PS (70%) e a PG (60%) valorizam a necessidade de maior educação / formação. Tanto o PI como o PS consideram que a maioria dos técnicos é capaz de identificar (PI-46,7%; PS-63,3%), prevenir (PI-43,3%; PS-43,3%) e intervir (PI-60%; PS-56,7%) nos maus-tratos. Contudo, a maioria da PG julga que os técnicos não estão habilitados para a prevenção (PG-53,3%). O PI considera ainda que qualquer profissional (26,7%) poderá ser um potencial agressor, enquanto a PG (36,7%) e o PS (43,3%) referem os auxiliares de acção médica como a categoria profissional mais propensa para ser maltratante.
Este estudo reforça a importância da criação de estruturas em rede entre a Saúde, o Serviço Social e as Autoridades que permitam uma resposta mais eficaz, bem como uma maior educação formação não só dos profissionais, como também da população em geral e dos próprios idosos.