A eficácia de uma intervenção cognitiva narrativa no luto complicado em viúvos
Abstract
O luto é um acontecimento marcante e de poderosos significados na vida dos
indivíduos. Quando não é ultrapassado de modo saudável e prejudica o bom
funcionamento do indivíduo, mais do que se considera normativo, falamos de luto
complicado (LC). Aquando da presença de LC, o viúvo tem elevada probabilidade de
cumprir critérios para perturbação depressiva major (PDM) e/ou perturbação pós
stress traumático (PTSD). A realização de investigação sobre intervenções neste
âmbito é de extrema utilidade e pretende potenciar uma evolução face ao que se tem
realizado na área do LC e nos cuidados a viúvos idosos.
O objetivo desta investigação é avaliar a eficácia da intervenção cognitiva narrativa
na redução dos valores totais de luto complicado, sintomatologia depressiva e
sintomatologia traumática em viúvos idosos. As variáveis consideradas são: a) como
variáveis dependentes o luto complicado, a sintomatologia depressiva e a
sintomatologia traumática e b) como variável independente a intervenção cognitiva
narrativa. O estudo é longitudinal, ensaio clínico aleatoriamente controlado com
recurso a medidas repetidas, com teste de robustez de intervenção e de
enviesamentos, utilizando-se um Questionário Sócio Demográfico (QSD), o
Inventário de Luto Complicado (ICG), o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a
Escala de Impacto Eventos Revista (IES R), um programa manualizado de
intervenção cognitiva narrativa para o luto complicado e um instrumento de avaliação
da aceitabilidade dos participantes.
Há três momentos metodológicos sequenciais: (1) Aplicou-se o QSD e o ICG, que
avalia o luto complicado, a viúvos/as (n=82) (idade ≥ 60 anos de ambos os sexos;
viúvo/a há ≥ 6 meses). Destes, os que tinham valores totais de ICG ≥ 25 (ponte de
corte para luto complicado) mais elevados constituíram a nossa amostra final de 40
participantes. Estabelecemos dois grupos: grupo de intervenção (GI) (n=20) e grupo
de controlo (GC) (n=20). (2) A estes dois grupos foi aplicado o BDI e a IES R e o GI
foi solicitado para participação num programa de intervenção breve baseado na
terapia cognitiva narrativa (4 sessões semanais de 60 min) e que admitiu como fases
terapêuticas: a recordação, a subjetivação emocional e cognitiva, a metaforização e a
projeção. (3) Num último momento, repetiu-se a avaliação com o ICG, BDI e IES R
quer ao GI como ao GC, de modo aos resultados serem comparados (2 meses após a
finalização da intervenção). Para a avaliação das diferenças entre GI e GC recorremos a análises do teste t, qui
quadrado, effect sizes e análise de medidas repetidas (GLM repeted measures).
O GI manifestou diferenças estatisticamente significativas de redução dos valores de
luto complicado, sintomatologia depressiva e traumática comparativamente ao GC.
Obtivemos um valor de tamanho do efeito para o ICG, BDI e IES R bastante elevado
para amostras pequenas o que denota a eficácia da intervenção ao longo do perfil
longitudinal. A adesão e a aceitabilidade para com o programa de intervenção foram
elevadas.
Este estudo reforça a importância de promover intervenções breves que aliam um
menor número de sessões logo com menores custos o que se repercute numa maior
aderência a estes programas, com elevada eficácia.