Alterações eletrocardiográficas e perfil tensional durante a hemodiálise
Abstract
A hemodiálise é atualmente o tratamento mais utilizado na insuficiência renal crónica
terminal. No decorrer deste tratamento, os doentes apresentam alterações eletrocardiográficas e
variações do perfil tensional, que contribuem para um aumento significativo da sua morbilidade e
mortalidade.
Objetivo: Identificar as principais alterações eletrocardiográficas e o perfil tensional dos insuficientes
renais crónicos durante a hemodiálise.
Material e métodos: Avaliamos as alterações eletrocardiográficas e os valores tensionais de 30
doentes durante a hemodiálise, com recurso a registo eletrocardiográfico contínuo e monitorização
periódica da tensão arterial. Esta investigação enquadra-se num estudo prospetivo, observacional em
uma série de casos.
Resultados: A amostra é maioritariamente masculina (56,7%), com idade média de 61,8±12,1 anos.
As alterações eletrocardiográficas mais frequentes são a extrassistolia supraventricular (63,3%) e a
ventricular (56,7%). O valor médio de extrassístoles supraventriculares é de 819,93±2192,05 e o de
ventriculares é de 32,80±109,49. Verifica-se aumento do número médio de arritmias ao longo da
hemodiálise, com significado estatístico apenas para as extrassístoles supraventriculares entre a 2ª e a
3ª hora de tratamento (p=0,023). As arritmias são mais frequentes nos homens, no grupo etário ≥65
anos e nos não diabéticos. No escalão etário <65 anos, as arritmias são mais frequentes nas mulheres.
Os valores tensionais médios ao longo da hemodiálise, são de 113,53±24,06mmHg para a tensão
arterial sistólica e de 63,33±13,07mmHg para a tensão arterial diastólica. Verifica-se uma descida dos
valores tensionais ao longo da hemodiálise. Contudo, a diferença de valores de tensão arterial sistólica
e diastólica, apenas se revelou estatisticamente significativa (p<0,005) da 1ª para a 2ª hora de
tratamento.
Conclusões: Neste estudo verifica-se uma crescente incidência de extrassistolia ao longo da
hemodiálise, com maior frequência entre a 2ª e a 3ª hora de tratamento. Verificou-se também no
grupo dos idosos, do género masculino e dos não diabéticos uma maior incidência de extrassístoles.
No que respeita ao perfil tensional, registou-se uma diminuição dos valores tensionais ao longo da
hemodiálise, principalmente na sua fase inicial, entre a 1ª e a 2ª hora. Assim sendo, os dados deste
estudo corroboram as recomendações já existentes que revelam a necessidade da monitorização
eletrocardiográfica contínua e da avaliação periódica e regular do perfil tensional durante a
hemodiálise, de modo a prevenir as complicações cardiovasculares associadas a este tratamento.