Investimento e responsabilidade parental de mães com filhos institucionalizados
Abstract
A história pessoal do individuo, nomeadamente as experiências vividas no seio familiar, tem uma influência determinante no seu desenvolvimento psicológico.
A institucionalização da criança/jovem (C/J) permite na sua maioria, apenas, o crescimento físico e social, ficando a faltar um crescimento afetivo, alicerce de toda uma vida adulta saudável, constituindo-se como impossibilidade de uma evolução em espiral, num movimento incerto mas construtivo. “Ninguém abandona sozinho...”; são os pais, a família e o meio em que a criança se insere se constituem ausentes. Os pais não souberam, não puderam ser “suficientemente bons” (Sá e Cunha, 1996). Assim, a instituição deve oferecer-se à criança como uma estrutura contentora, minimizadora dos efeitos de uma separação/abandono inevitáveis. Por outras palavras, é essencial a criação, a manutenção e a disponibilização da instituição como lugar de cultura e formação afetiva, de modo a que a resiliência possa eclodir. Em Portugal, aproximadamente 12.000 C/J estão em situação de acolhimento institucional, ou seja, estão entregues aos cuidados de uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). A revisão bibliográfica feita sobre o investimento e a responsabilidade parental de mães com filhos institucionalizados experienciam reações que podem ser interpretadas como sinais de stress, junto com mecanismos de defesa, estando suscetiveis a sofrer perturbações desenvolvimentais se a institucionalização se prolongar. O isolamento tendencialmente gera ansiedade e outros sentimentos de dor, incluindo raiva e depressão. A privação completa de cuidados primários e apoio afetivo por parte da família pode ter um efeito permanente no desenvolvimento da personalidade em capacidade de formar, suster e desfrutar das relações (Marron, 1998).
O presente estudo tem como objetivo, avaliar a perceção que os jovens institucionalizados e respetivas mães detêm sobre as suas funções parentais. Participaram 41 jovens institucionalizados com idades compreendidas entre os 11 e 18 anos e respetivas figuras maternas.
Os resultados obtidos apontam para a presença de comprometimentos significativos tanto ao nível do investimento parental, como ao nível da responsabilidade parental destas mães. A maior parte destas famílias (cerca de 60%) enquadra-se na concetualização de famílias multiproblemáticas, apesar de não apresentarem valores de psicopatologia relevantes.