Avaliação da resistência mecânica entre peças unitárias totalmente em zircónia e peças unitárias em zircónia revestidas a cerânica, sujeitas a carregamentos mastigatórios
Abstract
As restaurações à base de zircónia estão a tornar-se cada vez mais populares. É prática comum aplicar uma camada de cerâmica nas coroas dentárias a revestir o núcleo de zircónia. Estudos reportam falhas clínicas neste tipo de coroas fabricadas em zircónia, sendo a principal causa apontada a fratura da cerâmica.
É uma preocupação constante resolver este tipo de questão, pois todos os dias são publicados dados sobre novos materiais e processos tecnológicos para melhorar a adesão da cerâmica à zircónia evitando, assim, o aparecimento de microfraturas na região de interface entre ambas, as quais levam à falência da cerâmica. A fresagem de uma peça única pode ser uma alternativa a restaurações em zircónia.
O objetivo deste estudo in vitro é avaliar a variação da resistência mecânica de restaurações unitárias posteriores em zircónia revestidas a cerâmica comparativamente com restaurações totalmente em zircónia. Pretende-se, ainda, com este trabalho, avaliar o efeito do envelhecimento artificial, tanto térmico como mecânico, correspondente a 5 anos em função clínica, sujeitando, para isso, as coroas a carregamentos cíclicos, que simulem as cargas mastigatórias e variações de temperatura.
Para a metodologia empregue, foram fabricadas 69 coroas: 33 em zircónia revestida a cerâmica e 36 totalmente em zircónia, todas com as mesmas dimensões. Destas, 17 coroas em zircónia revestida a cerâmica(G1) e 18 coroas totalmente em zircónia (G3) foram sujeitas a testes de fadiga mecânica e térmica, após os quais, as coroas foram sujeitas a compressão até a fratura. As restantes coroas, 16 coroas em zircónia revestida a cerâmica (G2) e 18 coroas totalmente em zircónia (G4) foram sujeitas a compressão até ser atingida a fractura.
Os valores médios da força máxima de fractura obtidos, foram: G1- 2296 (N); G2- 2331 (N); G3- 3879 (N); G4- 3696 (N). Quanto à dispersão dos resultados obtidos: G1-16,2%, G2-16,6%, G3-11,4% e G4-11,9%, o que significa que o processo de fabrico das coroas totalmente em zircónia é mais rigoroso do que o das de zircónia revestidas a cerâmica.
As coroas em zircónia revestida a cerâmica apresentam uma resistência à fractura mais baixa que as coroas totalmente em zircónia. Para esta comparação, se consideramos o efeito da fadiga, as coroas totalmente em zircónia são cerca de 69% (p<0,001) mais resistentes à fractura do que as coroas em zircónia revestidas a cerâmica. No entanto essa diferença diminui para 59% (p<0,001) se não consideramos o efeito da fadiga.
Quanto ao efeito da fadiga mecânica e térmica, na resistência das coroas à fratura, podemos verificar que no caso das coroas em zircónia revestidas a cerâmica há uma diminuição de cerca de 2% (grupos G1 e G2; p=0,794), enquanto no caso das coroas totalmente em zircónia verifica-se um aumento da resistência de cerca 5% (grupos G3 e G4; p=0,224), não sendo um resultado estatisticamente significativo. Sendo assim, pode concluir-se que o uso clínico correspondente a 5 anos não tem influência na resistência à fractura no tipo de coroas testadas.
Neste estudo todas os grupos testados, com e sem fadiga, mostraram valores mínimos de fractura superiores a 1000N. Logo, todas as coroas excederam limites de resistência à fractura para zonas posteriores e por isso estão indicadas para a reabilitação dessas zonas.
Apesar de mais estudos serem necessários, os resultados deste estudo, sugerem que as coroas totalmente em zircónia podem ser uma alternativa as coroas revestidas em cerâmica na reabilitação na zona posterior.