Impacto do desenvolvimento fetal no funcionamento neurocognitivo em adolescentes e jovens adultos com cardiopatias congénitas
Abstract
O objectivo deste estudo foi avaliar o funcionamento neurocognitivo em adolescentes com cardiopatias congénitas e determinar se os parâmetros do desenvolvimento fetal avaliados em recém-nascidos, como o perímetro cefálico, comprimento, peso e índice de Apgar 1 e 2, estão de alguma forma relacionados com o seu funcionamento neurocognitivo.
Como método foi utilizado a avaliação de 107 pacientes com cardiopatias congénitas (62 do sexo masculino e 45 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 12 a 30 anos (M = 16,35 ± 2,75), sendo que 37 são cianóticos (Tetralogia de Fallot (N=14) e Transposição dos Grandes Vasos (N=23)) e 21 são acianóticos (Comunicação Interventricular). O grupo de controlo é constituído por 107 adolescentes saudáveis (50 do sexo masculino e 57 do sexo feminino) com idades compreendidas entre os 12 e 26 anos (M = 18,42 ± 2,96).
Todos os instrumentos de avaliação neuropsicológica para pacientes com cardiopatias congénitas foram obtidos no Centro Hospitalar de São João (CHSJ) e o grupo de controlo foi avaliado em escolas do distrito do Porto. Além destes instrumentos de avaliação, foram igualmente recolhidas as variáveis demográficas e a história clínica. A avaliação neuropsicológica incluiu os testes de Memória de Dígitos (diretos e indirectos), Código B da Weschler, Figura Complexa de Rey, Procura da Chave da BADS, Stroop (cor, palavra e interferência), Trail Making Test (A e B) e Memória Lógica.
Quanto aos resultados obtidos, os pacientes cardiopáticos em comparação ao grupo de controlo apresentaram resultados mais baixos no teste da Memória de Dígitos (directos: t = 27,78, p < 0,001; indirectos: t = 23,83 , p < 0,001), Figura Complexa de Rey (cópia: t = 48,15 , p < 0001 ; memória: t = 26,97 , p < .001 ), Código B (t = 39,87 , p < 0,001), BADS (t = 20,20 , p < 0,001), teste de Stroop: palavras (t = 47,73 , p < 0,001), cores (t = 44,26 , p < 0,001) e a interferência (t = 35,54 , p < 0,001) e Memória Lógica (t = 34,23 , p < 0,001), mas resultados mais altos no teste de Trail Making Test A (t = 22,28 , p < 0,001) e B (t = 24,36 , p < 0,001). Entre os parâmetros fetais/neonatais (principalmente, o perímetro cefálico) e capacidades neuropsicológicas nos subgrupos de cardiopatias congénitas, surgiram várias correlações. No entanto, as principais correlações verifica-se entre a cianose e o perímetro cefálico no nascimento com o desenvolvimento cognitivo mais tarde nas cardiopatias congénitas (R = 0,254 ;
R² = 0,065 , F = 2,975 , p = 0,056 ; perímetro cefálico: β = 0,181 , t = 1,733 , p = 0,087 , cardiopatia: β = 0,180 , t = 1,725 , p = 0,088).
Conclui-se portanto que, os adolescentes e jovens adultos com cardiopatias congénitas apresentam um funcionamento neurocognitivo deficitário, comparativamente ao grupo de controlo, principalmente os pacientes cianóticos em relação aos pacientes acianóticos. As anomalias e a circulação fetais parecem ter forte impacto sobre o crescimento cerebral e somático, prevendo um défice neurocognitivo em adolescentes e jovens adultos com cardiopatias congénitas