Capacidade de testemunho do ponto de vista neuropsicológico: estudo comparativo entre uma amostra de jovens adultos e seniores
Abstract
O presente estudo tem como objetivo a avaliação da capacidade
de testemunho criminal dos seniores, comparativamente a um grupo de jovens,
tendo em consideração os efeitos do envelhecimento no funcionamento
cognitivo (Muller & Knight, 2002; Daigneaulta, Braund, Whitakerb, 2009).
Métodos: A amostra é constituída por 45 participantes divididos entre dois
grupos: Grupo de Jovens (GJ) e Grupo de Seniores (GS). O GJ é composto por
27 alunos universitários, com idades compreendidas entre os 19 e 24 anos (M=
19.85; DP = 1.10). O Grupo de Seniores (GS) com idades entre os 60 e os 78
anos (M = 68.83, DP = 5.13). A recolha dos dados foi efetuada através da
visualização de um excerto de um filme com uma cena de um crime (2 min. e
10 seg.), seguindo-se a evocação livre (EL) da cena observada e
posteriormente facilitada (EF). Foi ainda administrado um Questionário
Sociodemográfico (Rocha, leite & Serra, 2013). A EF foi efetuada através do
“Registo de Evocação Livre" e a EF " Registo de Evocação Facilitada" (Rocha,
Leite & Serra, 2013), construida com base na cena visualizada, tendo sido
sujeita a um acordo de juízes e validada por um estudo piloto. Os mesmos
participantes foram mais tarde avaliados com provas neuropsicológicas quanto
ao reconhecimento de faces e de memória visual.
Resultados: O Grupo Sénior (GS), comparativamente ao Grupo Jovem (GJ)
apresentou resultados inferiores e estatisticamente significativos ao nível da EL
(F (1,43) = 52.47, p < .001, ɳ2= 0.55) e EF (F (1,43) = 22.79, p < .001, ɳ2=
0.35). Este efeito do grupo etário também se verifica ao nível dos resultados
obtidos nas evocações livres por dimensões (F (5, 215) = 2.65, p = .024,
ɳ2=.06). A magnitude da diferença entre GS e GJ é maior na EL,
comparativamente à EF. De uma forma global, verifica-se que o “Contexto”, é a
dimensão menos evocada pela amostra total (F (5, 215) = 172.50, p < .001,
ɳ2=.80), com maior incidência no GS.
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Quanto às subprovas neuropsicológicas, o Reconhecimentos Facial vs
Memória Visual Imediata, não variam consoante o Grupo Etário (F (1, 43) =
1.57, ns, ɳ2 =.04). Na Prova de Memória Visual Diferida (t (23.76) = 3.06, p
=.005), o GS (M = 9.89, DP = 3.85) apresenta resultados inferiores
comparativamente com o GJ (M = 12.93, DP = 2.09). O Índice Total de EL
correlaciona-se positivamente com a Prova de Memória Visual Diferida (r =.57,
p < .001). Há correlação significativa entre o Índice Total de EF e os resultados
nas provas de Memória Visual Imediata (r =.37, p =.011) e de Memória Visual
Diferida (r =.64, p <.001), verificando-se verificámos que está correlação é
apenas válida no GS (r =.50, p =.035). No GS também obtivemos uma
correlação entre este índice e a subprova de Reconhecimento Facial (r =.58, p
=.012). O resultado na subprova de Memória Visual Diferida apenas está
positivamente correlacionada com a modalidade de EL no GJ (r =.42, p =.031).
Conclusão: Os seniores apresentam maiores dificuldades na EL de uma cena
do crime, comparativamente ao GJ, sendo esta diferença esbatida na EF. Esta
tendência mantém-se nas dimensões da Vitima e do Agressor, mas não no
Contexto, constatando-se que mesmo com pistas apresentam grandes
dificuldades de evocação. Estes resultados evidenciam a importância da
Entrevista Cognitiva nas Provas de Testemunho na população mais idosa,
tendo em consideração que as pistas aumentam significativamente a
performance na evocação.