Funcionamento neurocognitivo na perturbação obsessivo-compulsiva e sua relação com características da personalidade
Abstract
Background: A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença
caracterizada por pensamentos intrusivos negativos (obsessões), acompanhados por
comportamentos ritualizados (compulsões). Existem evidências de alterações
neurocognitivas em vários níveis, nomeadamente nas funções executivas, velocidade de
processamento, memória, entre outras. Certos domínios da personalidade
(perfeccionismo e rigidez), têm vindo a ser associados à maior severidade da patologia,
sendo por este motivo fundamental considerar a mesma como um possível moderador
do desempenho neurocognitivo destes pacientes.
Objetivos: Pretendeu-se caraterizar o funcionamento neurocognitivo da POC,
bem como determinar a relação entre as suas diferentes funções cognitivas e os fatores
de personalidade do Modelo Big-Five.
Métodos: Neste estudo, um grupo de 11 pacientes com POC foram comparados
com 11 indivíduos saudáveis no que respeita aos seus desempenhos na realização de um
protocolo de testes neuropsicológicos e posteriormente, comparados com os domínios
de personalidade do Modelo Big-Five. Os testes estatísticos utilizados foram, o teste U
de Mann-Whitney para comparar o desempenho de ambos os grupos nas provas de
avaliação e o teste de correlação de Spearman para determinar a existência de relações
entre traço de personalidade e o desempenho nas provas neuropsicológicas.
Resultados: Estes revelaram diferenças consideráveis a nível dos desempenhos
cognitivos entre grupos, com o grupo POC a obter resultados claramente inferiores ou a
despender de mais tempo na realização de várias tarefas. Já em relação à personalidade
deram-se correlações significativas e positivas entre os domínios extraversão, abertura,
conscenciosidade e neuroticismo e determinados instrumentos de avaliação.
Conclusão: De acordo com os resultados e os múltiplos estudos corroborativos,
verificamos que, os défices cognitivos mais consistentemente descritos nesta
perturbação encontram-se, em tarefas de inibição de resposta, flexibilidade cognitiva,
controlo de interferência e memória de trabalho visuo-espacial.
Ponderamos também a hipótese de a personalidade poder realmente ser um
moderador do desempenho cognitivo dos indivíduos, dado existirem correlações
positivas e significativas entre certos domínios da mesma e o desempenho em
determinadas tarefas neurocognitivas, no grupo POC.