dc.description.abstract | É largamente conhecida a desmesurada dimensão do problema da dor crónica em geral, e
das lombalgias em particular. Pela sua enorme prevalência e pelos elevados custos
macroeconómicos que comporta para o SNS. Mas se muito se progrediu nos últimos 40
anos no conhecimento sobre a dor, o certo é que o impacto da referida problemática não só
em nada se alterou, como porventura até se agravou.
E aqui é inevitável remeter para a natureza multifactorial dos determinantes da dor, e muito
particularmente para uma faceta subjectiva que se prende a fenómenos de ordem
emocional. Neste domínio o que acontece é que os modelos interpretativos “clássicos” de
tipo conversivo, apesar de largamente difundidos e adoptados para modelar a intervenção
terapêutica, não só não estão devidamente consubstanciados, como até são postos em causa
por alguma evidência empírica.
O objectivo do presente estudo prende-se desde logo com a avaliação da regulação
emocional entre doentes com lombalgias crónicas e designadamente com o intuito de
avaliar transversalmente em que medida se relaciona com disforia e condiciona uma
expressão mais ou menos significativa da dor que caracteriza estes doentes.
E assim, este trabalho propõe-se abordar a problemática da dor crónica através de um
modelo explicativo correlacionando regulação emocional com ansiedade e depressão, e
com a expressão mais ou menos intensa de dor.
Para tal foram entrevistados sequencialmente 70 doentes com lombalgia crónica de
diversas etiologias, com uma média de idades de 51,76 ±16,97 anos – 28,6% do sexo
masculino e 71,4% do sexo feminino, recrutados entre os utentes da Unidade de Dor do
Hospital S. João, Porto. Uma vez identificados os doentes, foram caracterizados sóciodemograficamente
— (idade, género, situação conjugal, filhos, nível de escolaridade,
situação sócio-profissional, etc); medicamente — em termos de diagnóstico e terapêutica
em curso, avaliados na sua dor e quanto ao seu estado de ansiedade e depressão, e
estudados em termos de regulação emocional. Para o efeito foi utilizado uma entrevista
semi-estruturada e uma bateria composta pelo McGill Pain Questionnaire - Short-Form
(SF-MPQ), Estimativa de Duração do Tempo (ETM), Symptom Check List — 90R (SCL90R), Hopkins Symptom Checklist-25 (HSCL-25), e finalmente pelo Bermond-Vorst
Alexithymia Questionnaire (BVAQ).
A análise de resultados demonstrou que a população com lombalgia crónica apresenta
scores mais elevados de alexitimia do que o grupo de controlo. O mesmo se verificou para
alguns traços psicopatológicos nomeadamente, altos índices de somatização, obsessãocompulsão
e baixa ansiedade com alta ansiedade fóbica; conjuntamente com uma
pontuação na depressão sugerindo claramente níveis mórbidos avaliados pelo HSCL-25.
Os resultados do presente estudo sugerem que os doentes com lombalgia crónica
apresentam maiores índices de ansiedade e depressão e favorecem a hipótese que a
alexitimia é um factor importante e determinante na modulação da dor. | pt_PT |