Osteoesclerose idiopática: estudo radiográfico da sua prevalência numa população portuguesa
Abstract
A osteosclerose idiopática (OI) é uma formação benigna frequente que se
traduz radiologicamente como uma área circunscrita de osso denso no interior da
esponjosa dos maxilares. É assim denominada uma vez que a sua etiologia é
desconhecida, não estando aparentemente associada a infecção, doença sistémica ou
neoplásica. É normalmente um achado radiográfico pois aparece em pacientes
assintomáticos. As suas imagens radiográficas são frequentemente características e
permitem o diagnóstico. O diagnóstico diferencial é realizado com a osteíte
condensante, o cementoblastoma benigno, a exostose, a hipercementose, a displasia
cementária periapical, o osteoma, o cálculo salivar e o carcinoma metastático.
A OI raramente requer tratamento sendo essencial o seu correcto
reconhecimento diagnóstico. A sua importância clínica não é determinada pela sua
sintomatologia nem tão pouco pelas complicações que dela podem eventualmente
advir. O seu relevo reside na necessidade de se conhecer esta entidade de modo a se
evitar investigações desnecessárias, estas sim prejudiciais para o paciente, por uma
suspeita diagnóstica errada. A lesão irá provavelmente persistir por anos, e a sua
remoção não se justifica.
O objectivo deste estudo foi determinar a sua prevalência, distribuição por
idade, por sexo, por localização e tamanho, numa população portuguesa e, por fim,
comparar os resultados obtidos com outros trabalhos já realizados noutras
populações. Para tal, estudaram-se as fichas clínicas e as radiografias panorâmicas de
2028 pacientes da clínica da Unidade de Medicina Dentária da CESPU em Gandra,
com processo aberto no ano de 2005. Os pacientes tinham entre 2 e 87 anos. Os
exames radiográficos foram examinados pelo autor a fim de detectar a presença de
radiopacidades que não pudessem ser atribuidas a causas conhecidas de formação
óssea. Posteriormente, as radiografias com suspeita da lesão foram revistas em
conjunto com outro obsevador, de modo a minimizar a subjectividade e evitar erros
diagnósticos. Encontraram-se 159 lesões de osteosclerose idiopática em 146
pacientes, resultando numa prevalência de 7,2%. Nove pacientes apresentavam duas
lesões e dois possuiam três. A média de idades dos pacientes afectados foi de 29,40
anos (DP=12,70), sendo significativamente menor que a dos não afectados. A idade
mais precoce em que se detectou a lesão foi aos 10 anos e a mais avançada aos 68
anos. A maioria das opacidades foi encontrada na mandíbula (95,6%) e nesta, em
especial na região pré-molar (58,5%) e molar (25,8%). As lesões eram igualmente
prevalentes em ambos os sexos. Observou-se um pico de ocorrência na terceira
década de vida, altura em que se diagnosticaram 40,4% das lesões. O tamanho da
lesão, designado como maior diâmetro, medido directamente nas radiografias
panorâmicas, variava entre os 3 e os 28 milímetros (média=7,43 e DP=4,16). Em
nenhum paciente havia referência a qualquer sintomatologia, expansão bucolingual,
deslocamento de peças dentárias ou de estruturas ósseas adjacentes .
Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que a prevalência de OI
encontrada está em concordância com os valores reportados em outras populações.
De realçar a dificuldade na comparação dos valores de prevalência entre estudos,
devida principalmente à falta de consenso nos critérios diagnósticos e na composição
das amostras. Nenhuma das lesões diagnosticadas acarretou patologia associada, não
tendo requerido portanto qualquer tipo de tratamento.