A percepção do adolescente institucionalizado sobre o seu percurso desenvolvimental e a sua relação com o comportamento actual
Abstract
O impacto da institucionalização e dos maus-tratos sobre o desenvolvimento têm sido
domínios profundamente estudados. No que diz respeito à institucionalização, a controvérsia é
uma constante, ora surgindo este impacto como negativo, ora como positivo. No que respeita
aos maus-tratos, os estudos postulam, com unanimidade, que estes influenciam negativamente
o desenvolvimento das crianças e adolescentes vitimados. Tendo em conta, que Portugal
assegura a protecção a crianças e adolescentes em risco por intermédio do acolhimento
institucional, delineámos para o presente estudo dois objectivos primordiais: a) conhecer a
percepção dos adolescentes institucionalizados sobre o seu percurso escolar e familiar, antes e
após a institucionalização, bem como a representação do percurso institucional e dos projectos
futuros; b) explorar a relação entre a percepção dos adolescentes institucionalizados sobre o
seu percurso de vida e o seu comportamento actual. Assim, realizamos entrevistas individuais
com adolescentes (N=19) entre os 12 e os 18 anos (M=15,05; DP=1,9) e administramos
instrumentos para avaliar o comportamento de cada um, aos educadores da instituição (N=3)
e, respectivos, directores de turma (N=14). A análise de conteúdo das entrevistas revelou que,
no discurso destes adolescentes, a escolaridade se reveste de importância, sendo
percepcionada como marco para um futuro melhor, em termos de valorização pessoal e
profissional, apesar do percurso escolar anterior à institucionalização, ser marcado pelo
absentismo e abandono escolar. A institucionalização é vivenciada positivamente com ganhos
materiais, relacionais e educacionais, principalmente, para adolescentes institucionalizados há
um período de tempo igual ou superior a cinco anos. A família surge como referencial
afectivo, quer preservado, quer rejeitado, devido ao reconhecimento ou não das experiências
familiares adversas. No futuro, a prossecução dos estudos e a constituição da família são
delineados com optimismo. Inferimos, também, que existem diferenças significativas
(p<0,01) entre educadores e directores de turma quanto aos problemas comportamentais
apresentados pelos adolescentes institucionalizados. Verificamos, assim, que os directores de
turma revelam que o comportamento agressivo é o principal problema deste grupo, enquanto
para os educadores da instituição é o comportamento oposicionista. Por fim, concluímos que,
o distanciamento da família subjectivado, durante a institucionalização, as rupturas afectivas e
a representação traumática de acontecimentos de vida negativos que vivenciaram, se
relacionam com maior número e gravidade de problemas comportamentais. Por outro lado, a
representação de relações afectivas e de suporte com figuras adultas significativas na família e
na instituição e a interiorização de limites parece relacionar-se um índice mais baixo de
problemas comportamentais.