Modelo preditor de luto complicado de seis meses após a perda de um familiar
Abstract
Num momento em que se discute a inclusão do Luto Complicado no DSM-V como uma
nova entidade nosológica consideramos de extrema importância a disponibilização de
documentação estruturada que permita a avaliação consistente da sintomatologia
depressiva, traumática e familiar inerente a um processo de Luto.
Desta forma, estabelecemos como principal objectivo deste estudo longitudinal,
descritivo e multicorrelacional a predição da ocorrência de Luto Complicado, seis meses
após a perda. Para tal, a amostra de conveniência constituída por 52 participantes
encaminhados pelos Cuidados de Saúde Primários, foi avaliada 2 meses e 6 meses após
a perda, com as versões portuguesas do Inventário Depressivo de Beck (BDI), da Escala
de Eventos Traumáticos – Revista (IES-r), do Inventário de Luto Complicado (ICG) e
da Escala de Avaliação da Adaptabilidade e Coesão Familiar (FACES-III) e com um
questionário sócio-demográfico produzido para o efeito.
Foram encontradas associações estatisticamente significativas (χ² = 4.333, p <.05, OR =
3.889, CI 1.03-14.57) entre IES-r T1 e a existência de suporte social, entre BDI T2 e o
género (χ² = 5.663, p <.05, OR = 4.952, CI 0.76 - 31.93) e as habilitações literárias (χ² =
8.309, p <.05). No que concerne ao modelo preditor do ICG em T2, é estatisticamente
significativo (F = 19.148, p = 0.016), explicando 99,2% dessa variável. A relação com o
falecido e os sintomas concomitantes (Trauma e Depressão) explicam 30% e 22% do
modelo, respectivamente. A coesão e a adaptabilidade familiares (dimensões do
FACES-III) apresentam um efeito insignificante na variação do mesmo.
Relativamente à prevalência de sintomas, esta amostra apresentou resultados superiores
aos de outros estudos. O sexo feminino apresenta 5 vezes maior risco de apresentar
sintomatologia depressiva aos 6 meses. Este estudo também nos sugere uma grande
comorbilidade entre depressão, trauma e luto complicado, em ambos os momentos de
avaliação, com uma capacidade preditora considerável. Reforça a importância de uma
identificação precoce de aspectos relacionados com o luto complicado, sobretudo ao
nível dos Cuidados de Saúde Primários.